Festas juninas... Quando nos
reunirmos em torno de antigas tradições populares, e buscamos preservá-las, ao
mesmo tempo que as ressignificamos a partir de novos parâmetros socioculturais...
É cultura; e com o tempo se transforma a mercê dos gostos e das preferências...
de mercado... Em Pernambuco, e na região Nordeste como um todo, Festa Junina é patrimônio
imaterial que atrai turistas e movimenta a economia. O tipicamente nordestino
tem seu auge nesse período do ano. Festa “típica do interior” que é representada
na capital como uma prévia de carnaval, em espaço restrito e pago.
Nas escolas professores e
coordenadores, e até estudantes, se movimentam para preparar as apresentações,
enfeites, brincadeiras, comes e bebes. Por vezes, o forró, o baião, o xote são
substituídos por axés, sertanejos e passinhos de funk: é a multiculturalidade,
e a disposição de agradar a todos (ou melhor, atrair a juventude avessa à
músicas antigas).
Contudo, nas últimas décadas progressivamente
menos jovens participam das festas. Seja porque não se identificam, seja porque
a religião que professam dizem não permitir. O evangelismo fundamentalista
crescente tem colocado as escolas públicas (laicas) muitas vezes em situação
constrangedora. O que antes era algo, possivelmente, sentido pelos protestantes
em meio a uma maioria de católicos; agora tende a um movimento inverso: Há uma
resistência, uma negativa mesmo, em participar desses eventos culturais. Nas
aulas em que se abordam assuntos relacionados à tradições culturais – e nossos folguedos,
geralmente, têm origem ou alusões religiosas, seja católica romana, indígena ou
de matriz africana - pode se perceber o desconforto e a desaprovação por parte
de alguns estudantes, que muitas vezes já receberam de casa, do pastor, ou da
professora dominical recomendações para que não dançassem, não cantassem, não
participassem de qualquer atividade desse período. E fica para nós professores
a questão: - Como trabalhar esse conhecimento, e vivenciar esses festejos, sem melindrar
a fé de ninguém? Como fazê-los entender que esses eventos não abalam a fé e sim
aproximam as pessoas num congraçamento? Como fazê-los entender que as festas
juninas celebram a vida, a colheita, o trabalho bem-sucedido, mais do que
louvam santos? Como fazê-los entender que, com exceção de Santo Antonio, que
era um frade católico; João, Pedro e Paulo são figuras importantes na história
de Jesus e do Cristianismo, e, portanto, não há, na minha opinião, mal nenhum
em festejá-los, e podem ser encarados como um ponto em comum entre as diversas
instituições cristãs? Como trabalhar conteúdos como esse, no sentido de fazer conhecer
para saber, para compreender o que acontece a sua volta, e em sua própria casa,
em determinados períodos do ano? Muitas pessoas vivem no automático, numa
rotina anual de feriados comemorativos que pouco compreendem o sentido e o
significado. Acredito que seja uma das tarefas da escola fazer conhecer,
compreender o sentido e o significado, dos eventos que periodicamente vivemos, momentos
que tecemos memórias queridas desde a infância. Mas, para agradar gregos e
troianos, para promover a aproximação, é preciso selecionar com cuidado o
repertório, as danças, as fantasias, as histórias; porque o espaço escolar precisa
reunir, agregar, acolher; e evitar, ou melhor, lutar contra segregações, distinções,
discriminações e preconceitos.